O Instituto de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal de Ouro Preto funciona num prédio bicentenário, atualmente tombado pelo IPHAN, fundado em 1750 com o nome de Seminário Menor. O Instituto surgiu a partir da junção da UFOP com a Faculdade de Filosofia de Mariana (Fafim), em 1979, e em 1983, o edifício foi restaurado e melhor adequado para funcionamento. Nessa semana, completando 40 anos do restauro, o Instituto promoveu em parceria com o Laboratório de Pesquisa Histórica (LPH), um evento de celebração de sua memória, trazendo palestras, exposição de peças históricas e oficinas.
No dia 30 de novembro, quinta-feira, ocorreu a mesa de abertura, às 10h, com a presença do diretor do Instituto Mateus Pereira, da professora Cláudia Chaves (LPH), da Superintendente Estadual do IPHAN Daniela de Castro, do gerente de ensino da Escola de Ofícios Tradicionais de Mariana Ney Nolasco e do Padre Leandro Neves, Diretor do Arquivo Eclesiástico Dom Oscar de Oliveira.
Daniela de Castro mencionou a importância de que o IPHAN invista não apenas em grandes edifícios históricos, mas também em ações menores para os moradores, na infraestrutura urbana, em melhorias nas regiões periféricas e em edificações contemporâneas, representantes do presente. Ney Nolasco, gerente de ensino da Escola de Ofícios Tradicionais de Mariana fez uma apresentação sobre cuidados com patrimônios edificados, ressaltando pontos como o interesse da comunidade e do poder público em preservar a cultura e a memória, o incentivo financeiro, a legislação e o investimento em educação, conhecimento e ciência, em todos os níveis.
No mesmo dia, às 14h30, houve uma mesa de conversa sobre Arquivos e Patrimônio em Mariana, com Caio Boschi, historiador e professor da da PUC - MG e Luiz Alvez, professor da Rede Estadual de Educação. Boschi reforça que o rico arquivo eclesiástico da cidade de Mariana interessa não apenas à Igreja, mas possui também grande valor cultural, político e econômico, o que segundo ele é pouco estudado e tratado pela área da historiografia.
Às 18h, foram realizadas oficinas abertas com a presença de alunos e mestres da Escola de Ofícios, nas áreas de alvenaria, carpintaria, cantaria, forjaria e pintura. Ney Nolasco ressalta a importância da convivência, do diálogo e do compartilhamento de conhecimentos na Escola. Ele relata muita gratidão por estar envolvido num projeto de tamanho valor, capaz de transformar pessoas, e mais do que formar profissionais, responsável por resgatar e manter vivos saberes tradicionais e conhecimentos fundamentais da nossa sociedade.
Para Mateus Pereira, diretor do ICHS, a presença do passado não é uma mera abstração, a cultura material é a prova da presença do passado na atualidade. “A Escola de Ofícios realiza o trabalho magnífico de cuidar das pessoas que cuidam do patrimônio. São artes construtivas que nos permitem ver como as coisas eram feitas antes de nós. Olhar para esse passado é importante para ressignificar, deslocar o olhar e pensar na contemporaneidade de uma forma mais emancipadora, mais justa, que mantenha uma relação de admiração mas também de crítica com o passado, principalmente numa região como a nossa com um passado colonial e escravagista”.
No dia seguinte, sexta-feira, às 10h, houve uma mesa sobre o Seminário Menor da Boa Morte, com a presença da professora Adalgisa Campos, da UFMG, José Jardilino, da UFOP e mediada por Vanessa Teixeira. Às 11h30 houve uma visita na Capela Nossa Senhora da Boa Morte, e, às 14h30, uma visita na Igreja da Sé guiada por Adalgisa Campos.
Mateus Pereira esclarece que o evento foi pensado em articulação com o LPH como uma contrapartida ligada à educação patrimonial para o IPHAN relacionada às tratativas que estão sendo realizadas a respeito da restauração da cobertura do Seminário Menor. O prédio, onde hoje funcionam as instalações do ICHS, pertence à Arquidiocese de Mariana, e é ocupado pela UFOP no regime de comodato, logo, a responsabilidade pela manutenção é da Universidade. Estão sendo realizadas negociações para a liberação de fundos por parte do IPHAN para a substituição da cobertura do edifício, que é a maior necessidade no momento, já que o estado de conservação do restante da estrutura é bom.
O diretor relata o desejo da equipe em honrar a responsabilidade de manutenção do edifício histórico e preservar o patrimônio vivo do espaço. Ele ressalta que manter as condições de uso do espaço é importante para que o ICHS continue recebendo estudantes de todo o país, formando profissionais e endossando sua relevância econômica, cultural e social na cidade de Mariana.